
reaprender
Parece paradoxal, mas esta difícil estação do presente representa também uma oportunidade para nos reencontrarmos.
Confinados a um isolamento compreendemos talvez melhor o que significa ser – e ser de forma radical – uma comunidade.
A nossa vida não depende apenas de nós e das nossas escolhas: todos dependemos do amor e da bondade uns dos outros, todos experimentamos como é vital esta interdependência, esta trama feita de reconhecimento e de dom, de respeito e solidariedade, de autonomia e relação.
Os cuidados individuais, que somos chamados a exercitar, não são a expressão do interesse próprio apenas. São, sim, a forma de colaborar para uma construção maior, de colocar os outros no centro, de sacrificar-se por eles, de privilegiar o bem comum.
Esta é a hora em que podemos, de facto, reaprender tantas coisas.
Podemos reaprender a estar nas nossas casas, mas também a sentir que depende de nós o nosso prédio, a nossa rua, o nosso bairro, a nossa cidade, o nosso país, dando substância efetiva a palavras, tantas vezes destituídas dela, como são as palavras proximidade, vizinhança, humanidade, povo e cidadania.
Podemos reaprender a utilizar as redes sociais não só como forma de divertimento e de evasão, mas como canais de presença, de solicitude e de escuta.
Sem nos tocarmos, podemos reaprender o valor da saudação, o estímulo de um cumprimento, a incrível força que recebemos de um sorriso ou de um olhar.
Sem que os nossos braços se estendam na direção uns dos outros podemo-nos abraçar afetuosamente, como já o fazíamos ou de um modo mais intenso ainda, transmitindo nesses abraços reinventados o encorajamento, a hospitalidade, a certeza de que ninguém será deixado só.
Que a esperança seja constante!
Tolentino Mendonça