um pão que salva
- Antonino de Sousa
- 1 de jun.
- 2 min de leitura
Maria era uma mulher de 63 anos, viúva há quase uma década, vivia sozinha numa vila do interior de Portugal. A vida corria-lhe com a monotonia habitual: cuidar da horta, ir à missa ao domingo, preparar as refeições com simplicidade. Já tinha criado os filhos e agora vivia dias lentos e silenciosos.
Durante algum tempo, Maria sentiu que a sua vida tinha perdido sentido. Os filhos estavam longe, os amigos de juventude tinham partido ou adoecido, e ela questionava-se: “Para quê continuar? O que é que ainda tenho para oferecer ou viver?”
Foi numa manhã de outono, como tantas outras, que tudo começou a mudar. Estava a cozer pão no forno de lenha, como fazia desde jovem. Ao olhar pela janela da cozinha, viu um rapaz sentado no muro do outro lado da estrada. Era um jovem da aldeia que recentemente perdera o pai e que andava, dizia-se, “meio perdido” na vida. Sozinho. Silencioso. Com os olhos vazios.
Maria, num gesto instintivo, cortou uma fatia do pão quente, barrado com azeite e açúcar, e atravessou a estrada. Estendeu-lho, sem grandes palavras. Ele aceitou. E no dia seguinte, apareceu de novo. Durante semanas, ela passou a fazer uma fatia a mais de pão. Depois começou a oferecer-lhe chá. Depois ouviu-o. E, finalmente, ele começou a falar. E a chorar.
Meses depois, esse jovem voltou a estudar e foi ele quem, mais tarde, disse numa entrevista local: “Foi aquela fatia de pão quente que me salvou. Foi ali, naquele gesto simples, que voltei a sentir que a vida tinha sentido. A D. Maria não me deu um sermão. Deu-me pão. Deu-me paz.”
Maria nunca se viu como uma mulher especial. Mas um dia, confidenciou à sua irmã: “Descobri que Deus me visita todos os dias pelas janelas, pelos outros e pelos silêncios”.

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